Especial Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos | Entrevista com Angelo Mokutan
O Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos é comemorado no dia 30 de janeiro, “dedicado à valorização desta manifestação artística, à consagração de mestres e à divulgação do trabalho dos artistas nacionais de quadrinhos.”.
Esta data foi criada em 1984, pela Associação dos Quadrinistas e Cartunistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP), inspirada na publicação de “Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte”, a saga de um jovem caipira de 20 anos que visita a corte do Rio de Janeiro. A publicação dessa HQ, na Revista Vida Fluminense em 1869, é tida como a primeira história em quadrinhos lançada no país. Esta história é de autoria do italiano Angelo Agostini (1843-1910), radicado no Brasil.
A origem das HQs
É possível observar certo conflito no tocante à verdadeira origem das HQs. Isso porque, por um lado, temos a referência histórica de que o trabalho de Angelo Agostini, no Brasil, está documentado como publicado no ano de 1869; por outro lado existem referências dando o mérito pela a primeira HQ no mundo ao americano Richard Outcault, em 1895, como “A primeira história em quadrinhos (HQ) moderna”. A corrente que defende o título em nome do americano argumenta que seu trabalho foi o primeiro a usar os famosos “balõezinhos” das HQs.
Respeitosamente, é capaz de darmos ao americano o título dos “balõezinhos” e dar a Agostini o de primeiro a publicar uma HQ no mundo, e isto aconteceu no Brasil. Temos que considerar que a invenção de Santos Dumont, de certa forma, provocou debates parecidos.
A intervenção do bibliotecário
A produção de HQs, no Brasil, cresce significativamente e abraça um público heterogêneo cada vez maior, entre crianças e adultos. O acervo não é pequeno e entre os autores nacionais e estrangeiros, muitas gerações navegaram e navegam nas páginas de suas revistas, algumas vezes sendo este o primeiro contato da criança com a leitura.
Uma prévia do trabalho pode ser vista no blog Tudo Zen: https://www.tudozenquadrinhos.com/entrada
Tudo Zen? Quadrinhos de Angelo Mokutan
Contribuir na promoção e na divulgação das HQs, estimulando a sua leitura, é uma intervenção social, extremamente positiva do bibliotecário, no sentido de formar no país novos leitores, que aprenderão os caminhos das Bibliotecas e se encantarão com elas.
Brasil e os leitores do Mangá
A publicação de Mangá é um mercado que continua crescendo, tanto no meio impresso como no meio digital. A programação da XIX Bienal Internacional do Livro Rio, realizada em 2019, com palestras e uma homenagem especial ao Japão, é uma evidência de sua crescente importância e presença.
Angelo Mokutan – Um artista brasileiro de sucesso no Japão
Angelo Mokutan é uma das expressões de sucesso, em Mangá, de um artista brasileiro em terras japonesas, a pátria do Mangá!
Nascido em Belo Horizonte, Brasil. Aos 14 anos ficou fascinado pelo mangá (quadrinho japonês) e decidiu se tornar um autor profissional. Depois de estudar mangá e a língua japonesa no seu país, em 2007 ingressou no mestrado da Universidade Zokei de Tokyo. Após formar-se, trabalhou no setor de tecnologia da informação durante cinco anos. Nesse período, publicou uma série de contos de fadas adaptados para a Tokyo contemporânea, como Chapeuzinho Vermelho, e lançou-se como profissional. Participou da cerimônia de inauguração da Feira Internacional do Livro de Tokyo de 2015, como representante dos autores de mangá.
Atualmente, desenvolve sua carreira como um autor apaixonado pelo pensamento do oriente e do ocidente, com publicações como a série “Meu Diário Zen” na revista President Next, “Vocabulário Zen” no nippon.com, e “A Condenação de Leonora às Bestas” na revista Comic Jingai, esta última sobre filosofia da Roma antiga, foi parte da seleção oficial do 22º Japan Media Arts Festival. Seus trabalhos foram publicados em 8 idiomas.
Arte referente ao trabalho Leonora no Moujuukei (A Condenação às Bestas de Leonora) publicado no Japão.
Imagem book cover do livro que foi publicado e entrou para a seleção oficial no 22o. Japan Media Arts Festival, no ano passado.
Pergunta: O que levou você a optar pelas histórias em quadrinhos, no estilo mangá?
Resposta: No mangá há mais espaço para criação autoral, como fazer os próprios personagens e um universo para eles. Especialmente na minha época de estudante, nas editoras americanas e europeias o padrão era trabalhar com personagens já existentes, como é o caso dos super-heróis. No mangá há mais diversidade de gêneros de histórias, para leitores diversos, então encontrei mais liberdade criativa no mangá.
O mangá também é um fruto natural da cultura japonesa e até asiática em alguns casos. Tratando-se de culturas milenares, o teor cultural muito rico de certos mangás sobre história, mitologia e filosofia moral ressoaram profundamente na minha alma, fazendo eu decidir por este estilo.
A primeira faísca desse incêndio foi Cavaleiros do Zodíaco, que impactou a minha geração com seu universo vindo da Grécia clássica e do zodíaco ocidental. Depois fui descobrindo obras mais refinadas como as do diretor Hayao Miyazaki (Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro) e do mestre do mangá alternativo Taiyou Matsumoto (Preto e Branco, Ping-pong).
Pergunta: O seu nome profissional é Angelo Mokutan. Qual o motivo da escolha desse nome?
Resposta: Mokutan significa Carvão em japonês. Carvão é um dos sobrenomes da minha família, e nela há grandes artistas como o meu pai, Ricardo Carvão, com mais de 40 anos de carreira como escultor, e meu tio-avô Aluísio Carvão, pintor do neo-concretismo brasileiro com trabalhos adquiridos pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Seguindo essa veia artística da família, assino Angelo Mokutan (Carvão) para facilitar a pronúncia para os japoneses.
Pergunta: Como você conquistou espaço num mercado tão competitivo como o japonês?
Resposta: Essa conquista é o resultado da minha vida, então seria difícil responder por completo em poucas linhas. Posso explicar com a poderosa clássica tríade filosófica composta por Vontade, Amor e Inteligência. Vontade para vencer os desafios internos e externos. Amor para fazer algo bom e bonito para os leitores, mesmo não vendo resultados concretos inicialmente. Inteligência para fazer as melhores escolhas, como não copiar simplesmente um estilo de desenho de um artista renomado. Estou longe de ter essa tríade plenamente desenvolvida, mas cada passo que dou em direção a ela é muito válido e benéfico.
Pergunta: Existe uma relação entre os autores de quadrinhos de mangá e as bibliotecas japonesas, no sentido de manter esse acervo guardado para a posteridade?
Resposta: O volume de publicações de mangá no Japão é enorme, então as bibliotecas comuns adquirem somente alguns clássicos. Eu uso duas bibliotecas públicas na minha vizinhança e os livros de mangá geralmente são bem procurados. A Biblioteca Nacional da Dieta contém um exemplar de cada livro publicado no Japão, então ela é a que cuida da preservação das publicações para posteridade.
Pergunta: Quais são os seus planos para o futuro?
Resposta: Tenho trabalhado com mangás sobre o Zen desde 2016, e gostaria de publicá-los em um livro no Brasil. O Zen é uma filosofia prática para se tornar uma pessoa melhor e fazer um mundo melhor. No entanto não é fácil aprender sobre o Zen: há barreiras como a distância para se ir ao Japão, custos, o idioma, etc. Eu quero ser uma ponte entre as pessoas que buscam respostas e as respostas que o Zen oferece.
Uma prévia do trabalho pode ser vista no blog Tudo Zen: https://www.tudozenquadrinhos.com/entrada
É Dia do Quadrinho Nacional. Feito no Brasil , não dia Nacional do Quadrinho geral. Essa tada é em março, quando se comemora a invasão dos quadrinhos americanos em 1934 no Suplemento Juvenil.